Insone

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Poema de Leonor Posada



Não consigo dormir. A janela escancaro
e me quedo a cismar, olhos fitos na altura;
a noite é fria e linda e, solta, ao desamparo,
desce a neblina, em véus, em meio da negrura.

De manso, brinca o luar na rígida textura
das árvores. É todo o céu de arminho raro;
e a lua a me fitar, puríssima de alvura,
abre por sobre mim o olhar gelado e claro.

Nem a vejo, porém; a agonia me invade...
E, a sós, em horas tais, entrego-me á saudade
desse sonho que busco e desse amor ausente,

E me deixo levar, num pranto que consola,
a avivar e a sentir, enquanto a noite rola,
todo o bem que se foi e todo o mal presente...



Fonte: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.
Originalmente publicado em: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.

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