Em febre

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Poema de Leonor Posada



O meu delírio começa:
no colo a tua cabeça,
meu olhar em teu olhar...
Meus dedos de vez em quando,
em teus cabelos passando,
buscam neles se aninhar...

E inda mais a febre aumenta,
e a ti, que um sono acalenta
chega-te doce sonhar.
Ergo-te às mãos a cabeça,
o meu delírio começa
e me ponho a te beijar...

Beijo-te os olhos e, louca,
beijo também tua boca,
sem sossego, sem parar;
mais tua boca me tenta,
inda mais a febre aumenta;
- meu delírio vai passar...

Acordo. As mãos tenho-as frias,
dos teus cabelos vazias,
sonambúlicas pelo ar...
Beijei-te sonhando, louca!
- Há saudade em minha boca...
Há sombras em meu olhar...



Fonte: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.
Originalmente publicado em: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.

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