Calmaria

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Poema de Leonor Posada



Do cru desespero o vento que torcera
os ramos e elevara aos céus imprecações;
da raiva que explodiu e em sangue se embebera,
- sangue que viu correr, vermelho, aos borbotões;

do desejo servil, cujo pranto de cera
queima com mais ardor, prendendo aos seus grilhões;
do sonho que, uma vez, possível parecera,
abrindo tantos sóis em nossos corações;

- nada mais resta à vida! Inóspita paisagem!
Nem sequer do deserto a túrbida miragem
engana o viajor, d'água em sonoras ânsias...

Calma e parada assim, toda a vida severa
lembra extinto vulcão, cuja ardente cratera
em vez de lavas tem a neve das distâncias...



Fonte: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.
Originalmente publicado em: "Plumas e espinhos", Casa Valente, 1926.

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