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Poema de Fernando Pessoa




Inutilmente vivida
Acumula-se-me a vida
Em anos, meses e dias;
Inutilmente vivida,
Sem dores nem alegrias,
Mas só em monotonias
De mágoa incompreendida...

Mágoa sem fogo de vida
Que a faça viva e sentida;
Mas a mágoa de mãos frias
E inaptas para arte ou lida,
Nem pra gestos de agonias
Ou mostras de alma vencida.

Nada: inerte e dolorida,
A minha dor se extasia
Por não ser, e tem só vida
Para em torno a noite fria
Sentir vaga e indefinida...



Fonte: 'Obra Poética', décima edição, Editora Nova Fronteira, 2001.

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