Luar do Sertão
Não há, ó gente,
oh não
luar como este
do sertão.
Oh, que saudade
do luar da minha terra
lá na serra branquejando
folhas secas pelo chão.
Esse luar cá da cidade,
tão escuro,
não tem aquela saudade
do luar lá do sertão.
Se a lua nasce
por detrás da verde mata,
mais parece um sol de prata
prateando a solidão.
A gente pega
na viola que ponteia
e a canção é a lua cheia
a nos nascer do coração.
Coisa mais bela
neste mundo não existe
do que ouvir-se um galo triste
no Sertão, se faz luar.
Parece até que a alma da lua
é que descanta
escondida na garganta
desse galo a soluçar.
Ah, quem me dera
que eu morresse lá na serra
abraçado à minha terra
e dormindo de uma vez.
Ser enterrado
numa grota pequenina,
onde à tarde a sururina
chora a sua viuvez.
Originalmente publicado em: disco Odeon SLP 1052, 1914.